Na série “Aprendizagem fora de controle”, #6 Webinar do L.A.R., somos apresentados à ideia de flow como um campo riquíssimo a ser explorado. É algo que está potente e pode (e deve!) ser impulsionado em cada um de nós, até mesmo exercitado diariamente. Clara Cecchini e Alexandre Santille comandaram o papo sobre essa sensação de fluidez, que contou com Cadu Lemos como convidado especial.
A missão é responder como o flow pode ser aplicado individualmente nas organizações, pelas pessoas e pares, além de contribuir para a conexão entre as pessoas do time. E os líderes, de quais forma podem incentivar a experiência em sua própria liderança e nos colaraboradores ao seu redor? Ao final do artigo, você descobrirá como indivíduos e empresas podem incluir a cultura do flow na sua rotina, além de 3 dicas para tornar atividades da rotina de trabalho mais fluídas.
Por onde começar a desvendar o Flow?
Para começar a falar de flow, Cadu Lemos propõe um desafio: você consegue pensar em algum momento da sua vida em que tenha ficado tão concentrado em uma coisa, tão engajado em uma atividade, que você se desprendeu do mundo a sua volta? Não viu o tempo passar? E quando você menos percebe, já foi devorou um livro inteiro ou terminou aquela série superinteressante em apenas algumas horas...
Além desses exemplos, é comum pensar nessa experiência praticando algum esporte, dançando, aprendendo um hobby novo ou conversando com alguém que você não via há muito tempo. Provavelmente você já se sentiu assim em algum momento da sua vida, afinal, existem diversas formas de experienciar esse sentimento. Por isso, acredita-se que o estado de flow pode ser manifestado de forma espontânea ou, de certa forma, gatilhado por determinado ambiente, atividade ou pré-condição.
Encabeçando os estudos sobre o tema está Mihaly Csikszentmihalyi, psicólogo, escritor e pesquisador que, a princípio, buscava desvendar o segredo da felicidade. Para tal, ele entrevistou dezenas de pessoas entre cirurgiões, atletas de alta performance, empresários, xamãs, bailarinos, atores, celebridades e as mais variadas personalidades, até perceber algo em comum entre todas elas. Ao final da pesquisa, todas as pessoas diziam que felicidade é “quando tudo flui de forma natural, quando não tem ruído, interrupção, quase como se alguém estivesse fazendo algo por você”.
O fenômeno observado deu origem a vários livros de Mihaly – com destaque para Flow (1990), Creativity: The Psychology of Discovery and Invention (1996) e Finding Flow (1997) –, conceito posteriormente validado por pesquisas de neuroquímica e neuro elétrica. Afinal, a sensação de bem-estar descrita pelos entrevistados envolvia emissão dopamina, neurotransmissor que de fato está ligado às emoções humanas. Com o avanço da tecnologia no campo da ressonância magnética, mais uma vez os estudos puderam ser validados ao observar em tempo real o que acontece com o cérebro a partir de alguns estímulos externos, inclusive a aparência de um cérebro ao estado de flow.
O indivíduo, o time e o ambiente corporativo: pensando o flow em diferentes escalas
Agora que já conhecemos como se comporta e os benefícios do flow de uma maneira mais ampla, cabe pensar nos seus impactos no que diz respeito ao ambiente corporativo e seus componentes. De acordo com uma pesquisa da McKinsey de 2014, um executivo em flow consegue ser 5x mais produtivo do que aquele que não atingiu o estado ainda. Sua relação com o trabalho muda, os processos e fluxos por ele tocado são impactos positivamente e, além disso, um líder inspirado também inspira.
Sobre o flow em ambientes corporativos, é importante frisar que essa experiência prazerosa de fluidez também pode ser vivenciada de forma coletiva. A partir de gatilhos específicos, como a partilha de um ambiente seguro ou objetivos semelhantes, é possível impulsionar o estado flow em times ou grupos que trabalham juntos. Por isso, para empresas que buscam impulsionar suas atividades e promover um ambiente que cresce junto, aprender sobre formas de manter o canal de flow ativo é um passo importante para maior produtividade e bem-estar no trabalho.
Para Cadu Lemos, o uso de metodologias ágeis representa um jeito funcional de trabalhar com flow. Os membros dos squads não têm uma diferença hierárquica entre si, desenvolvem skills similares durante um tempo determinado (sprint) e têm suas metas e riscos também divididos entre todos. Antes de apresentar o resultado em si, é preciso fazer pesquisas prévias, consultar projetos já feitos ou colaboradores de outros times, dentre outras ações, com os membros da equipe se deparando com experiências e momentos parecidos. Por mais autônomos que os indivíduos ou empresas sejam, em uma equipe, interagem e trabalham juntos em prol do mesmo objetivo. Todas essas características induzem o grupo a encarar o canal de flow juntos, podendo acelerar a produtividade de todo o squad. É por isso que cada vez mais empresas estão construindo a sua cultura em torno do conceito de flow, como o Google. A feramenta de pesquisa mais popular do mundo e empresa queridinha da tecnologia e inovação já adota e divulga boas práticas sobre o tema há alguns anos. A partir do Projeto Aristóteles, case do Google sobre flow no mundo corporativo, somos lembrados que o sucesso e trabalho em equipe saudável são construídos em cima das vivências dos colaboradores, com suas trocas e interações emocionais. O projeto Aristóteles indica que é preciso garantir 5 dinâmicas principais para proporcionar boas experiências em equipe, sendo elas:
Segurança psicológica (Psychological Safety) para que os membros da equipe possam assumir riscos ou ser vulneráveis sem se sentirem envergonhados;
Confiabilidade (Dependability) ou certeza de que podem contar uns com os outros para fazer um trabalho de alta qualidade no tempo combinado;
Estrutura e clareza (Structure and Clarity) dos seus objetivos, papéis e metas dentro da equipe;
Significado (Meaning) para estar em contato e trabalhar com algo que é pessoalmente importante para cada um;
Impacto (Impact) visível entre os membros da equipe e a certeza de que o que é feito importa e gera mudança.
Veja mais sobre o Projeto Aristóteles aqui.
Não falta tempo, falta flow: como ativar o flow em atividades do dia a dia de trabalho?
“Um dos primeiras e mais importantes gatilhos para estimular o estado de flow é ter uma meta clara” É a partir dessa afirmação que Cadu Lemos começa a responder sobre os desafios de encontrar o flow na rotina corporativa. Para tal, separamos algumas dicas mencionadas pelo especialista ao longo do #6 Webinar do L.A.R.:
• Saiba onde você quer chegar com objetivos claros: Um dos princípios do flow é a capacidade de dominar uma atividade, pensando naquele momento prazeroso que é alcançado quando você realiza algo. Essa realização pode ter um significado ou importância único para você ou equipe, mas saber que meios para realização do objetivo são acessíveis ao indivíduo é o que o deixará mais próximo e atingir o flow no dia a dia de trabalho.
Com a realização desses objetivos, pouco a pouco, encontramos o que o palestrante chama de “ganho marginal” - para a realização de outros objetivos similares ou não. No próximo e nos demais, a confiança para realizar tais atividade estará mais próxima de se tornar fluída, expandido o estado de flow.
• Não tenha medo de dividir suas metas! Sabendo que ter um objetivo é o principal ponto de partida para atingir o estado de flow, é importante que essa meta seja possível - ou seja, é preciso equilibrar um objetivo que seja desafiador sem ser grande ao ponto de desanimar. Metas muito assustadoras podem gerar ansiedade e afastar você da fluidez almejada, indo em direção oposta ao flow. Por isso, que tal dividir as metas?
Se um aluno precisa estudar um livro inteiro, por exemplo, é possível dividir em capítulos, quantidade de palavras ou tempo dedicado à leitura, sempre pensando em dividir em pequenas metas que vão fazer sentido para o objetivo final. O mesmo se aplica às empresas e corporações que, com visões claras de onde querem chegar, conseguem planejar metas anuais, semestrais ou mensais para atingir seus objetivos. Para pessoas ou de time, é possível destrinchar essas metas em projetos, sprints semanais ou entregas individuais, que responderiam à necessidade de manter o desafio sem assustar.
• Amigos, amigos, interrupções à parte: Para Cadu, além de identificar objetivos que sejam claros e direcionais ou dividir em micro objetivos, quando necessário, também é preciso criar condições de foco e concentração para realizar essas metas. Afinal, se você quer ativar o flow, aumentar sua produtividade e acelerar seu aprendizado, é preciso estar em foco – hiper foco, sem interrupções.
Um exemplo do dia a dia está na palma das nossas mãos. Tocou uma notificação e deu aquela espiadinha rápida no celular? Você automaticamente já está fora do flow e, para voltar ao foco, será preciso alguns minutos de completa atenção. Em adição, Cadu Lemos afirma que “não adianta afirmar que você vai trazer a cultura do flow para uma empresa ou para os seus hábitos de aprendizagem se você não tiver a disciplina de criar rotinas que te façam dominar a tecnologia e proteger sua janela de foco”.
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Para finalizar, cabe dizer que o flow é algo que está dentro de todos, uma sensação universal, que todo mundo pode ativar para alcançar essa completude e realização. Em momentos de crise, aumento da ansiedade, estresse e índices de burnout, pode ainda ser um antídoto, valorizando os momentos genuínos de flow, seja em âmbito pessoal ou profissional. Com Cadu Lemos, aprendemos que, “no fundo, talvez você não queira usar o flow para ter mais horas no seu dia e trabalhar mais. A gente pode ressignificar o flow para algo que possa te ajudar a fazer suas atividades mais rápido sem perder a qualidade, usar o flow para se sentir bem alcançando os objetivos e ter mais tempo para você mesmo, pro seu autocuidado ou aprender algo novo”.