Para mirar em direções possíveis nessa jornada de revolucionar a aprendizagem, aprender de formas foras da caixa é essencial. Nos últimos anos, os chamados “hacks” de aprendizagem se tornaram ponto relevante da conversa e, por isso, vamos compartilhar nossas impressões por aqui. 

No #7 encontro do L.A.R, Chico Araújo, antropólogo organizacional e referência nacional em tecnologias sociais, teve a desafiadora missão de responder como a ciência pode revolucionar a aprendizagem. Mauro Mercadante e socio-fundador da teya, e Clara Cecchini, escritora e especialista em inovação e aprendizagem somaram no debate. 

Se você quer dar uma olhada no nosso encontro completo, dá uma olhada aqui. No post, vamos desdobrar os pontos altos e algumas discussões que surgiram ao longo do papo com o Chico. 
 

A pergunta que não quer calar: é possível ser feliz enquanto aprendo? 
Segundo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil está no topo da lista de países com maior percentual de pessoas com transtorno de ansiedade. São 9,3% do total de brasileiros com ansiedade, com pesquisa da UFRGS indicando um aumento considerável durante a pandemia. Os casos de depressão, síndrome do pânico e demais condições psicossociais também estão em curva crescente, sinalizando o alerta para a saúde mental dos brasileiros.  

Para Chico Araújo, temos a tendência de “buscar felicidade em pontos errados”, ainda que de forma inconsciente. Essa é chamada adaptação hedônica ou estoicismo, ciclo comportamental que alterna entre felicidade e infelicidade (e vice-versa), em busca de algo ainda não conquistado que nos fará mais felizes. O antropólogo traz como exemplo frases como “só vou ser feliz de verdade quando tiver esse emprego, quando receber algum presente ou tal salário”.  

Depender de um cargo, objeto ou acontecimento para resumir toda a felicidade em sua vida resulta em zero felicidade no momento presente, naquilo que de fato faz parte da sua vida atual. É claro que isso não é impeditivo para trilhar metas para os seus objetivos e buscar sonhos, pelo contrário. Mesmo sonhando com uma promoção ou em conhecer novos lugares, você ainda precisa encontrar momentos felizes no agora (mesmo que sejam pequenos momentos de felicidade!). Depositar todas as expectativas em possibilidades que podem ou não acontecer resulta no que Chico chama de pessoas “cronicamente infelizes e cronicamente improdutivas”. 

Desde já, para falar de hacks de aprendizagem, não podemos ignorar o fato de que aprendizagem e felicidade não são excludentes. É possível ser feliz enquanto aprende, afinal, quem nunca comemorou ao finalmente conseguir resolver um dilema ou leu durante horas só pelo prazer de aprender algo novo? Com mais serotonina em seu corpo, você sentirá disposição ao longo do dia, seu cérebro funcionará melhor e, consequentemente você vai aprender ainda mais. Os benefícios para a saúde mental também são perceptíveis, com o “hormônio da felicidade” liberando neurotransmissões para todo o seu cérebro. Nessa engrenagem, podemos dizer que aprendizagem e felicidade podem e andam lado a lado. 
 

Mas, afinal, o que são hacks de aprendizagem? 
Inicialmente, hacks são pequenas ações ou movimentos para facilitar (do inglês, hack = truque) alguma ação. No eixo de psicotecnologia, ou seja, o estudo da mente a partir do uso da tecnologia, existem alguns meios de enxergar o assunto, que pode se desdobrar em hackeamento de espaços físicos e digitais ou, como citado no #7 L.A.R, formas de “hackear” a aprendizagem. 

Ao tirar desse momento de aprender o sentimento de culpa, pressão, esforço ou cansaço e substituir por pequenas atitudes que facilitam o processo, hackeamos a aprendizagem da forma que é conhecida. Adotando uma nova perspectiva, é possível tornar a aprendizagem mais prazerosa e, por que não, tornar esse momento feliz? 

 
Alguns hacks de aprendizagem que recomendamos: 

• Efeito Tetris: Em um estudo comportamental, um grupo de pessoas foi desafiado a jogar Tetris durante horas seguidas. O experimento acontecia todos os dias, durante semanas, com as mesmas pessoas jogando o mesmo jogo. Ao final do estudo, mesmo após um tempo sem contato com Tetris, os participantes continuavam vendo Tetris aonde iam: a lógica do encaixe, as cores, as formas geométricas. Estavam “contaminados” pelo jogo, no melhor sentido da palavra. 

Pensando nisso, é possível aplicar o observado em diversos âmbitos. Chico Araújo sugere que façamos o nosso próprio Tetris, agora voltado para felicidade. Que tal começar a anotar as coisas boas que aconteceram no seu dia, todos os dias? Ou anotar algo novo que tenha aprendido, por mais simples que pareça ser à primeira vista? Repetindo o exercício por algumas semanas, você criará um novo hábito saudável. A partir do que foi observado no “efeito Tetris”, o seu cérebro vai começar a procurar por outras informações boas e novos aprendizados ao seu redor.  

• Reboot de pensamento: Outro ponto superimportante do conceito de hack de aprendizagem é, de vez em quando, se permitir dar um reboot (ou resetar, reiniciar) o default mood network. Em termos gerais, esse modo default fala sobre quando o seu cérebro começa a perambular, divagando entre ideias. Com o tempo, o córtex pré-frontal, parte do cérebro responsável por pensamentos complexos, personalidade e tomada de decisão, começa a se cansar. Em consequência desse esforço, a tendência é diminuir a capacidade cognitiva, criatividade e mais.  

Ao pensar em um computador ou aparelho eletrônico, é fácil pensar que quase todos os problemas se resolvem depois que você desliga e liga de novo. Da mesma forma, resetar o pensamento não só voltar para ideia inicial, mas dar um gás a mais e reiniciar seus programas mentais. Pensando nisso, algumas práticas já são conhecidas para esse objetivo, seja ginástica laboral (exercícios de curta duração focados em alongamento e bem-estar durante o trabalho), pomodoro (técnica de concentração e foco com pausa entre as atividades). No mais, se baseiam no mesmo princípio: a necessidade de dar um “boot” de pensamento, desligando por um tempo para voltar depois. 
 

• Dormir após estudar: Quem nunca virou a madrugada para estudar para uma prova, ou emendou horas seguidas de trabalho e aprendizagem sem pausa? E se eu te disser que essa não é a melhor forma de absorver o conteúdo?  
 
Você sabia que dormir após estudar é a maneira mais eficaz de reter a informação aprendida? O descanso é uma parte importantíssima para o fluxo de aprendizagem, com o sono sendo sua confirmação imediata. Ao estudar algo novo, com toda a concentração focada na nova informação, a retenção do conteúdo aprendido será mais tranquila se você se permitir descansar. Descansar é hack de aprendizagem milenar, mas que também precisa considerar as atualizações tecnológicas. Mais do que se concentrar em “cumprir” 8 horas de sono, uma rotina de sono saudável inclui diminuir contato com telas na hora de dormir e buscar lugares silenciosos. O sono melhora à noite, a concentração e humor melhoram ao longo do dia e a aprendizagem também!