Eu não ia publicar, porque nesta altura do campeonato contra o coronavírus achei que este tema já tinha sido debatido o suficiente, mas percebo que ainda não foi.
O apoio à liderança neste momento não pode vir somente das “receitas dos 4 passos”, como tenho visto em diversas publicações.
Por mais que a liderança manifeste suas ansiedades, medos, angústias por meio da necessidade por “passos” ou “receitas”, o que tenho percebido é que a mensagem deve ser outra.
A teya* disponibilizou gratuitamente um espaço de conversas individuais para diversos clientes, com o objetivo de apoiar os líderes neste momento de incertezas (chamamos de #papoteya). Não é coach, não é apoio psicoterapêutico. Apenas uma conversa aberta, com escuta apurada para tentar contribuir organizando seus anseios.
Eu tive o enorme prazer de falar com mais de 80 líderes neste período dos últimos 30 dias, (nestas conversas individuais ou em processamentos em grupo).
O que percebi é que a mensagem que surtiu maior repercussão nestas pessoas foi a lembrança de que, em tempos tão tristes, estranhos e desconhecidos, estar normal é que é difícil.
Dois pontos em especial me pareceram muito impactantes:
a) a perspectiva de que precisamos nos permitir não estar bem. Aliás estranho seria se estivéssemos normais.
b) e, uma vez admitindo que não estamos bem, saber que não precisamos dar conta sozinhos das angústias, ansiedades e medos.
O que me pareceu mais significativo, foi a leveza gerada quando lhes foi dada “permissão” para não precisarem sustentar o papel de heróis. Que, no final das contas, não precisavam ter as respostas, solicitadas ansiosamente pelos liderados (até porque realmente não tinham).
Tenho citado bastante John Hagel, porque resumiu bem o novo papel da liderança; aquele que não possui as respostas, mas por meio da formulação das boas perguntas, consegue mobilizar o grupo para construir os recursos e os caminhos em um mundo de diversos contextos. O autor tem uma frase que gosto: "estamos tentando responder a questões que nunca tínhamos formulado antes".
Últimos pontos importantes, que emergiram das conversas e que fizeram bastante sentido para estes líderes: se não precisam sustentar a imagem de heróis (porque em momento de crise o normal é o "não normal"), e também não precisam resolver tais questões sozinhos, podemos pedir ajuda:
- ajuda profissional (psicoterapia) ou
- o que tenho chamado de força da comunidade. Incrível como o grupo, o time, o coletivo, em ambiente de abertura e acolhimento, podem ser o elemento que precisamos para construir os recursos necessários para avançar, apesar das inúmeras ameaças que vivemos hoje.
Eu tenho experimentado, com o grupo da teya*, um espaço extremamente rico de abertura e de ajuda. Temos vivido ansiedades diárias, cansaço, falta de foco, sensação de improdutividade. E os recursos que temos usado para sobressair a estas emoções têm sido reconhecê-las, acolhermos este momento, e pedir ajuda. O grupo ajuda, acolhe, anima, compartilha, compreende e age.
Uma vez compreendida tal potencialidade, é responsabilidade de quem viveu tal experiência compartilhar com mais pessoas, como um aprendizado a ser ampliado. E isto começa por nós mesmos, ouvindo nossas emoções (como nos ensina Susan David), aprendendo com elas, e nos apresentando de forma transparente.
Precisamos convidar mais pessoas a viver esta experiência de nos apoiarmos mutuamente, para que o coletivo nos ajude a navegar por águas desconhecidas.
Fiquem bem!