Tenho trabalhado com diversos times ao longo destes anos, enfrentando o desafio de construir ambientes de confiança (haja Lencione!).
O que tem emergido destas experiências é que, diferente da premissa de que as pessoas não estão dispostas a confiar, existe um outro fator constante (e mais prático) que impede as conexões entre as pessoas: a pressão que os processos exercem sobre elas.
Me explico: a “entrega” possui uma força tão grande para as organizações que se sobrepõe a qualquer outro esforço dos times e dos indivíduos. É um constructo organizacional que vai além da cultura. É quase como se fosse o “superego” das organizações atuando para que não nos percamos nas vielas da ineficiência. Sem discutir, temos que entregar. John Hagel chama de modelo de eficiência escalável (Scalable Efficiency Moldel).
Saber o que temos que fazer no nosso dia a dia nos dá a sensação de que somos produtivos, e isto nos conforta.
Fato é que a entrega e a extrema obsessão pela eficiência nos faz “olhar para baixo”. Olhar para o nosso problema e não para o outro, seja nosso colega ou par. E, curiosamente, é lá no outro que mora esta tal conexão. É lá que construímos (ou não) a confiança.
A construção dos espaços de confiança passa, necessariamente, por ressignificar o que para nós, é importante. Passa, por exemplo, por nos desvencilharmos do urgente. Mudar as coisas que valorizamos. Exige de nós um movimento novo, de experimentação em direção mais ao outro e menos à tarefa. Para tanto, o apoio das nossas comunidades é vital, pois ao nos afastarmos da nossa zona de costume (conceito do amigo Rodrigo Vergara – ria.works), ao nos aproximarmos do desconhecido, corremos o risco de voltarmos a sermos aqueles de sempre. A comunidade nos dá apoio e força para explorar este Novo.
Para isto precisamos de coragem. Capacidade do coração de nos fazer agir.
Em tempos de corona vírus, me vejo num lugar de receio e ansiedade. A agenda do dia a dia se transformou. Olho para as minhas entregas e vejo coisas diferentes para fazer. Tenho estado mais longe de clientes (que costumam preencher meu dia a dia). A agenda continua cheia, mas me vejo longe do conforto daquela entrega tradicional.
Portanto o que faço é preencher o tempo com o futuro que se constrói, agora.
Olhando para cima (menos para baixo) e criando novas (muitas) conexões. É lá que mora a confiança. Ansioso pelo hoje e confiante pelo amanhã.
Mais um(s) aprendizado(s).