Recentemente li sobre os resultados do Ideb 2015 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e me deparei com o quanto a educação brasileira está estagnada. A notícia mostrava que o rendimento escolar dos alunos do ensino fundamental e médio permanece abaixo das metas de melhoria estabelecidas pelo Ministério da Educação desde 2011.
Diante disso, me perguntei: qual é o nível de confiança que esses jovens possuem em si mesmos ao ingressar no universo de milhões de pessoas a procura de um emprego? Quais são as suas reais chances de se desenvolverem e serem úteis para a transformação do país depois de tantos anos sem propósito?
Eu que diariamente estudo e me dedico a novas formas e meios de capacitar e desenvolver pessoas, como resolvo ou amenizo este ciclo de formação precário que se estende ao mercado de trabalho e que dificulta a construção de uma sociedade criativa e produtiva.
Coexistimos praticamente em dois mundos. De um lado, a educação de base sofrendo com conteúdos e formatos extremamente obsoletos e, do outro, a conectividade (dispositivos móveis, computação em nuvem, big data, internet das coisas, etc.) se instaurando no dia a dia e gerando cada vez mais uma interdependência econômica e social planetária.
Essa discrepância fica evidente pelo fato de que existe cerca de 11,4 milhões de desempregados no país e, ao mesmo tempo, uma infinidade de vagas e oportunidades em aberto por falta de profissionais qualificados. Esses tais qualificados não estariam exatamente no bolo dos desempregados que tiveram uma educação de base obsoleta?
Um levantamento da Affero Lab mostra que quase 50% dos empregadores brasileiros enfrentam essa dificuldade, a de encontrar o cara certo. O problema tende a se agravar quando vejo a previsão do World Economic Forum estabelecer que daqui aproximadamente cinco anos, mais de um terço das competências que são consideradas importantes na força de trabalho de hoje terá mudado.
Ao buscar o caminho de saída, vejo que, além da óbvia e urgente reforma nas políticas e métodos do ensino público, atribuição que compete mais fortemente à esfera governamental, a implementação de uma cultura de educação corporativa dentro das empresas está nas mãos dos seus próprios dirigentes e empresários.
E apesar dos investimentos em treinamento e desenvolvimento profissional (T&D) ganharem importância na mente dos nossos líderes, o montante destinado a este quesito ainda é muito baixo quando comparado com o exemplo dos EUA. Para se ter uma ideia, enquanto o Brasil investe uma média de 16,6 horas em treinamento e 518 reais por profissional no período de um ano, os EUA investem 1.208 dólares e seus colaboradores recebem 31,5 horas de treinamento nos mesmos 12 meses. Os dados são da pesquisa “O Panorama do Treinamento no Brasil”, que em 2015 ouviu 425 empresas do setor de Treinamento e Desenvolvimento (T&D).
O levantamento mostra que o maior foco do investimento tem sido na capacitação das lideranças, cerca de 42% das ações formais de T&D foram para este público. A tendência evidencia a importância de se ter líderes preparados e maduros para enfrentar a presente e futura demanda por novos talentos.
Nesse aspecto, as tecnologias são aliadas fundamentais na promoção de uma aprendizagem continuada (lifelong learning) com baixo custo e alto impacto, podendo ser incorporadas tanto no ensino escolar como corporativo. Práticas de Gamificação, Mobile Learning, Ensino Adaptativo, Realidade Virtual, entre tantas outras inovações, despontam como poderosas ferramentas para o objetivo de agregar conhecimento e eliminar os velhos formatos que já não funcionam mais.
Enquanto vamos amadurecendo, o tempo não para, o bônus demográfico encurta, e as distorções causadas pela defasagem na formação de nossos cidadãos se agravam. Por isso, trabalhar intensamente em ações contínuas de aprendizagem pode ser encarado como a grande oportunidade do século, aquela capaz de emergir e consolidar as reais potencialidades dos funcionários, gerentes, empreendedores, líderes, enfim, dos brasileiros.